Você sabia que existem pessoas que sentem menos medo de investir em uma paleteria mexicana no Brasil do que em um título de renda fixa da Alphabet – dona do Google – emitido nos Estados Unidos?
Esse viés comportamental, conhecido como Home Bias, afeta negativamente não só os seus investimentos como os de qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. Mas por que isso acontece?
Continue a leitura para entender melhor como evitar esse padrão.
O que é Home Bias?
Para te ajudar a entender de fato o que é Home Bias – ou Viés Doméstico em português –, imagine um investidor que prefere investir na sua região, país e moeda, sem nunca modificar o portfólio. Isso acontece porque a insegurança no mercado financeiro é derivada diretamente da falta de conhecimento (ou da sensação de falta) sobre o funcionamento de determinado ativo ou economia.
Quando alguém fala que vai se mudar para a Europa, por exemplo, é natural que uma das primeiras preocupações seja em relação às oportunidades do mercado de trabalho local. Quem entende de investimentos sabe que os grandes fatores da economia, como o crescimento do PIB e a variação da inflação, afetam diretamente na busca por emprego e qualidade de vida – tanto para os nativos quanto para os imigrantes.
Por exemplo, cada dia mais se discute a preocupação com a situação econômica da Europa, que ainda sofre com as sequelas deixadas pela pandemia da COVID-19 e pela Guerra entre Rússia e Ucrânia. Basta pesquisar os dados econômicos do país em questão para encontrar notícias do banco central europeu informando que o PIB cresceria 3% em 2022.
Esse dado pode ser associado com o relatório focus que, toda segunda-feira, publica as expectativas para inflação, PIB, dólar, etc. Seguindo um método bem fundamentado para
chegar o mais próximo possível do número futuro, em Janeiro de 2022, nós lemos que a previsão da inflação para o ano era de 5%, logo depois de 2021 ter fechado em 10%.
Mesmo assim, você pode olhar ao seu redor no dia a dia e pensar “acho que eles piraram ou não moram no mesmo país que eu”. Isso acontece porque você tem certeza do que está falando por viver todos os dias no contexto do seu bairro e da sua cidade, mas que não é necessariamente uma verdade. Essa sensação de certeza sobre o conhecimento da economia do seu país é a mesma que faz com que você não sinta tanto receio decomprar ações da OGX.
Pensa que se você é designer, provavelmente terá medo de fazer uma cirurgia de transplante de coração. Afinal, seu conhecimento se limita ao que você assistiu de Grey’s Anatomy. Já o cirurgião experiente tem tamanha confiança no processo que faz a cirurgia enquanto comenta sobre a novela.
Sendo assim, por mais que você pesquise o crescimento de um país e a situação da economia local, dificilmente terá a mesma sensação de segurança e domínio do que alguém que mora lá. Afinal, você não vive o dia a dia daquela região e confia apenas no conhecimento técnico ao invés do empírico. É aí que nasce o Home Bias, com a idéia de “deixa eu ficar por aqui mesmo que é melhor”, e no final das contas, 100% da sua carteira está investida no seu país.
Continue a leitura para saber quais são os fatores negativos de ter uma carteira com investimentos apenas do seu país.
Qual é o impacto negativo do Home Bias?
Você pode até me dizer que isso acontece porque o processo de investir lá fora é difícil, burocrático e exige valores muito altos. Mas hoje em dia não é mais assim!
A XP Investimentos, por exemplo, já tem a plataforma que permite que os investidores consigam comprar títulos estrangeiros de forma fácil e acessível. Porém, mesmo com todas essas facilidades, o Home Bias continua aparecendo devido ao medo irracional e à falta de informação, e não por burocracia.
E aí você pergunta “tá, mas por que isso afeta negativamente a minha carteira?”. Nós te explicamos!
Existem dois tipos de risco que sempre precisamos considerar na hora de montar um portfólio de investimentos:
Risco Não-sistêmico
Acontece quando a informação de que o preço do petróleo despencou é veiculada e todas as ações de empresas exploradoras de petróleo caem. Mas as ações das empresas de educação não são afetadas, por exemplo. É um risco que fica limitado àquele setor especificamente.
E como que você resolve esse problema? É só dividir o seu dinheiro em ativos que sejam sensíveis a problemas diferentes. Assim, quando um cai, os outros se mantém estáveis e você economiza rugas de estresse.
Risco Sistêmico
É aquele que afeta tudo dentro daquele sistema financeiro. Joesley Day, Greve dos Caminhoneiros e Pandemia do COVID-19 vão fazer você entender o que eu estou falando!
Se nessas horas não sobra ninguém no positivo, como fazer para sofrer menos? Essa situação é um pouco mais complicada, mas dá para resumir em duas alternativas:
- Comprar uma proteção para a carteira (Hedge): vai ajudar bastante, mas dificilmente consegue proteger 100% do portfólio e sacrifica a rentabilidade final.
- Dividir o dinheiro em países diferentes: dificilmente vai acontecer um “Joesley Day” ao mesmo tempo no mundo todo. Situações como COVID ou crise do Subprime em 2008, que afetaram todos os países, são eventos estatisticamente tão raros que não justificam você queimar seus neurônios e seu dinheiro para se proteger.
Vale lembrar que o Home Bias pode acontecer em outras “esferas territoriais” e não necessariamente de um país para outro. Isso também acontece quando você decide comprar ações da empresa X, que possui números e indicadores piores do que a empresa Y do mesmo segmento, apenas pelo fato de trabalhar nela. Afinal, ela é mais familiar e confortável para você.
É isso que também está em jogo quando você evita mover seus investimentos do banco para uma corretora, que oferece melhores opções e atendimento, por uma insegurança que você não sabe explicar muito bem.
Portanto, fica claro que na prática o que vai tornar o ativo mais ou menos arriscado não é a fronteira territorial, e sim os números e indicadores das empresas envolvidas. Lutar contra esse viés abrirá um excelente leque de opções que tornarão a sua carteira de investimentos mais equilibrada, diversificada e com risco mais controlado.
Sempre reflita qual é o real motivador do seu receio e sempre questione as dúvidas e desconfortos para o profissional que te auxilia nos investimentos. Desse modo, você aumentará muito a chance de tomar decisões mais pragmáticas e racionais.
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